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A realidade espiritual do louvor

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O que Deus espera de nós? Grandes realizações no campo do trabalho evangelístico? Contribuições generosas para a igreja? Jornadas de oração e jejum? Efetivação de obras de caridade em favor dos necessitados?

Considero que todas essas ações sejam desejáveis e válidas perante Ele, mas, temos de convir, seria possível para o Senhor do Universo torná-las realidade mesmo sem a nossa colaboração.

Há, porém, um elemento na eternidade que depende totalmente de nós e que somente pode ser tributado ao Altíssimo de livre e espontânea vontade: a adoração.

Será que você já avaliou exatamente o que está envolvido em tal atitude? Não seria possível que outros elementos estivessem presentes naquilo que você pensa ser adorar, prejudicando sua pureza?

Bem, essa meditação não pretende oferecer uma resposta completa a esse importante assunto, mas somente ponderar, à luz da Palavra, alguns aspectos bíblicos envolvidos no que se faz nos dias de hoje.

UMA RETROSPECTIVA

Deus me concedeu várias oportunidades de aprendizado ao longo de uma vida bastante ativa.

Uma experiência interessante foi aquela de ter sido um dos primeiros produtores de discos evangélicos no Brasil, tendo, inclusive, patrocinado o primeiro Long Play-LP Evangélico, nos idos de 60, com o cantor Luiz de Carvalho, no selo Músicas Sacras, criado pelo Missionário Virgil Frank Smith, já falecido.

Não é, pois, sem surpresa, que tenho presenciado um fenômeno dos dias atuais em que todo “cantor crente” quer gravar seu CD e muitos cantores populares, já não tão populares, querem agendar uma visita às igrejas para mostrar seu “talento”.

A questão em si não seria causa de preocupação, mas é importante avaliar o contexto do que vem ocorrendo, para que não sejamos envolvidos em práticas que tomem o lugar da Palavra de Deus e nos aproximem do mundo.

A questão tem efeitos práticos, pois as atitudes isoladas, por nós assumidas na busca do agradar a Deus podem, todavia, a médio e longo prazo, fragilizar seu crescimento espiritual, porque o que nos dá força é a assimilação das vitaminas e proteínas e não o mero comer.

Se quisermos tomar um exemplo da avaliação bíblica, poderemos escolher Efésios 5: 15-21, a respeito do qual tenho ouvido pregações, mensagens, estudos e exortações desde minha infância, sempre com o enfoque centrado no verso 18, que nos adverte sobre os males da embriaguês, deixando de lado tantas lições ótimas da mensagem de Paulo, principalmente aquela relacionada com a importância de sermos cheios do espírito de Deus.

“Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do espírito;
Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando salmodiando ao Senhor em vosso coração.
Dando graças por tudo a nosso Senhor deus e Pai em nome de nosso senhor Jesus Cristo.
Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus.

Observe que esse texto nos orienta muito bem sobre a questão do louvor, com cânticos de qualidade espiritual, saídos do coração, em um intercâmbio entre os salvos que se amam e por isso se sujeitam uns aos outros.

O LOUVOR E A ADORAÇÃO PERTENCEM A DEUS

Deus é digno de todo louvor e, principalmente, de adoração exclusiva, o que acontece hoje através de Jesus, que, certamente, partilha dessa glória. II Samuel 22: 4; Ap 5:12 (número incalculável de seres eternos envolvidos no louvor). Jo 12: 3 (o verdadeiro ato de louvar, que equivale à adoração, tem um custo e se torna patente diante de todos); Hb 13; 12-15.

Esse ato de louvar e adorar não deve ocorrer somente em lugares consagrados, situações ideais ou em um momento reservado. A adoração a Deus O agrada e, de outra parte, tem a função de mostrar aos outros que nos cercam que ele é Deus, aconteça o que acontecer.

Um exemplo extraordinário desse comportamento isento de motivações pessoais, gerado pelo simples fato de que a adoração é tributada exclusivamente pelo respeito que temos para com o Senhor, nos é trazido por Jó:

“Então Jó (depois de receber notícias devastadoras) se levantou, e rasgou o seu manto, e raspou a sua cabeça, e se lançou em terra e adorou”.(Jó 1:20).

TODOS DEVEM TRIBUTO DE LOUVOR AO SENHOR

Todo o universo e todas as criaturas têm a “responsabilidade” de louvar, mas eles tributam o louvor mais por motivação, gerada pelo próprio Deus, do que por obrigação. Salmos 10: 20-21 (anjos, potestades, criação); Salmos 103: 22b (a alma humana deve louvar ao Senhor); Salmos 148: 1-10; 150:6 (o universo); Salmos 107:8; Ap 19:5; Salmos 149:12; Salmos 8:2(crianças).

Davi, por meio dos Salmos, que compôs e remeteu aos levitas para que adquirissem a condição de cânticos, nos dá o maior exemplo bíblico de uma sistemática de louvor. (Salmos 85 – ao cantor mor).

Seu procedimento, um tanto incomum entre reis e guerreiros, não derivou simplesmente do prazer que tinha em escrever poesias, mas sim porque ele “amava a Deus de todo coração” e isso fazia com que sua adoração fosse aceita pelo Senhor. .

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor”.

Salmos 122:1

CANTAR, LOUVAR OU ADORAR?

Nesse instante cabe uma avaliação entre os atos e conceitos de “cantar”, “louvar” e “adorar”, que muitas vezes são colocados como idênticos, embora não sejam.

O “cantar”, diferentemente de muitas das práticas que marcam a vida do cristão, como orar, jejuar, ler a Palavra, é algo que não exige uma determinação, um esforço espiritual, pelo fato de não serem compatíveis com a rotina normal de ser natural. Cantar é algo que praticamente faz parte da bagagem que nos acompanha no nascimento, sendo comum ver crianças muito novas cantando qualquer toada que lhes for transferida pelo ouvir.

O cantar, ou tocar músicas, precede as práticas religiosas, levando-nos a Gênesis 4:21 quando é identificado o pai dos que tocam instrumentos.

Nos dias de hoje é muito fácil identificar certas realidades:

1. Praticamente todos nós somos “induzidos” por nossa mente e levados a cantarolar alguma música, debaixo do chuveiro ou quando estamos sozinhos.

2 Nos programas de rádio, há alguns anos atrás, e hoje, nos shows de calouros, centenas de pessoas fazem filas, esperam por meses e passam por situações constrangedoras para mostrar que podem cantar.

3 Nos cultos, via de regra, aparece um cantor que está lançando seu CD e que considera sua mensagem musical “uma benção”.

4 Artistas, que já foram famosos como cantores e que hoje estão sem público, buscam se apresentar em igrejas sob a proposta de que são grandes instrumentos de louvor.

5 A música evangélica, já de algum tempo, tem se tornado bastante ligada à música profana, quando se utilizam famosos temas, com a troca da letra, para “cantar ao Senhor”.

6 Dentro dessa sistemática, temos os hinos/rock, hinos/chachado, hinos/samba, hinos/reage, em composições que muitas vezes carecem de harmonia e cujas letras, encaixadas à força, não têm consonância com a Palavra.

7 A idéia de que qualquer música apresentada na igreja, e que toca no nome de Deus, produz uma forma de unção divina não tem fundamento, pois reações emocionais à música são comuns em qualquer show pop. O que ocorre é uma espécie de “visitação”, cuja origem pode ou não ser divina. (veja o estudo “Unção ou visitação”).

Durante a montagem deste estudo está acontecendo em Brasília um festival de música pop com a presença de conjuntos que não são os mais famosos do mundo, mas que prevê público diário entre 45.000 e 60.000, “fãs” que virão de várias localidades do Brasil, gastando boas quantias para isso. Onde está a ação espiritual nesse caso?

Isso nos adverte, que, embora o cantar possa ser uma base para o louvor, ele é não necessariamente a mesma coisa.

A Bíblia, em Salmos 69:12 e Amós 5: 23; 6:5; 8:10, nos adverte sobre “cânticos não aceitos pelo Senhor”.

Observe como Paulo trata da questão do louvor em Efésios 5: 18-19 e também em Colossences 3: 15-16 onde nos diz:

“E a paz de Cristo habite…”.
A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros com salmos e hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração”.

Paulo nos mostra que existe um caminho a ser percorrido entre o cantar e o louvar, que tem por base a Palavra, a convivência de amor para com os irmãos, pois fomos chamados em um só corpo.

Isso tem implicações práticas na atualidade, pois as reuniões dos que criam em Jesus no tempo dos Atos dos Apóstolos eram destinadas à comunhão, tendo cada salvo uma função de compor o “culto” a ser prestado a Deus, devendo tudo ser pautado pela “ordem” e a decência, como nos deixou registrado o mesmo apóstolo Paulo em I Cor 14:26-40.

Essa “ordem” não representa, de um lado, um culto super programado, que estabelece restrições que impeçam a manifestação dos dons espirituais.

Não sendo válido, de outro lado, deixar que as coisas aconteçam de forma “aleatória”, conforme me foi relatado por uma irmão, pessoa simples mas de Deus, que tendo sido convidada para ministrar em uma igreja, viu longos períodos de cânticos conduzidos por conjuntos, sejam seguidos pela apresentação do coral, e depois por “artistas” convidados, de tal maneira que não houve tempo para a manifestação dos dons, mesmo porque a ministração da Palavra só veio a ocorrer em momento tardio, quando as pessoas, já pensando no trabalho do dia seguinte, se retiravam.

Isso pode parecer um radicalismo contra os cânticos, ou uma pretensão de querer ensinar ministros sobre a forma de conduzirem suas igrejas, mas nada mais representa que uma análise do enfoque particular, e também do geral, do tema na Bíblia.

Jesus, o mais objetivo de todos os ministradores, pois só ele tinha a palavra de vida eterna, despendeu muito de seu tempo para orientar, curar, orar, mas foi extremamente conservador no que tange aos cânticos, não havendo menção a essa prática, a não ser no singular, como é o caso do relato de Mateus 26: 30; Marcos 14:26:

“E tendo cantado o hino, saíram para o monte das Oliveiras”.

O louvor, para que adquira aquela validade que almejamos, deve respeitar certos princípios:

REQUISITOS DO BEM LOUVAR REFERÊNCIA BÍBLICA
Com entendimento Sl 47:7
Com a mente ( do interior) I Cor 14:15
Com o coração ( sentimento do espírito) Sal 119: 7; Sl 63
Com a alma ( sentidos em harmonia) Sal 103:1; Sl 104: 1.35
Com alegria (*) Sal 63:5; Sal 98:4; II Cr 29:30;Jer 33:11

(*) Quando falamos em alegria não estamos reeditando o provérbio: “Quem canta seus males espanta”. O louvor válido nasce de um coração alegre no Senhor, o que não elimina a necessidade de que o louvor dirigido a Deus tenha que ser cuidadosamente preparado, com som harmônico, suave e agradável aos ouvidos de todos que o ouvem.

O verdadeiro louvor não é algo da capacidade humana, produzido a partir de ótimos cantores, instrumentos sofisticados, efeitos sonoros e ambiente de palco, roupas bonitas e elegantes, maquiagem e outros elementos comuns aos shows do mundo, embora essa coisas causem muito impacto, podendo ser até úteis à ministração sacra.

Quem “abre nossos lábios” para o louvor é o próprio Deus, que transforma algo externo, que meramente emociona, em um contato com o Eterno, que gera milagres.
“Abre Senhor, os meus lábios, e a minha boca entoará o teu louvor”. Salmos 51:15 (Salmos 119: 164).

Pare um pouco para avaliar o episódio vivido por Paulo e Silas:

“E perto da meia noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam”.

E de repente sobreveio um tão grande terremoto, que os alicerces do cárcere se moveram, e logo se abriram todas as portas, e foram soltas as prisões “. Atos 16: 25-26.

Não é possível deixar de observar que os cânticos foram acompanhados de orações e que eles não pretendiam se mostrar para ninguém, embora estivessem sendo observados por outros presos. Seu cântico não tinha ambiente nem motivações comuns, era o louvor que se torna adoração e chega até ao Senhor.

Sabendo que existe diferença entre “cântico e louvor” devemos considerar, também, que o louvor, mesmo que de ótima qualidade, não é, ainda, a adoração. Temos que evitar a armadilha da similaridade, que quer passar do básico para o sublime sem percorrer o caminho correto.

O louvor devotado a Deus tem que ser único. Uma vez que não nos é possível servir a dois senhores. Por isso, não cabe tributar ao Senhor do Universo algo que ofereço a qualquer outro. Deus tem direito exclusivo à adoração, que não pode ser oferecida nem mesmo aos anjos, cujo poder e santidade são garantidos pelo próprio Senhor (Mat 4:10; Ap 9:22).

Jesus, através do relato de João 4:24, deixa bem clara a natureza da adoração:
“Deus é espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e verdade”.

Cantar é algo ótimo, principalmente se você possui a habilidade vocal ou o jeito com instrumentos. Isso pode ser transformado em louvor, que é um “catalisador” da adoração, mas isso deve ser feito de acordo com a orientação da Palavra.

Ao concluir, gostaria de apresentar algumas considerações práticas àqueles que desejam fazer do cântico, louvor e do louvor, adoração. Algo que infelizmente o grupo mais antigo que ainda mantém fama mundial, os Rolling Stones, não conseguirá, pois sua música não possui os requisitos necessários para que entre na sala do trono de Deus.

1. Aos que participam:

1.1. Participe dos cânticos de sua igreja sempre com alegria.
1.2 Tenha o louvor como algo presente em seu coração, praticando-o em todo tempo e lugar, mesmo que em silêncio.
1.3 Louve com sabedoria e com conhecimento da Palavra.
1.4 Não se preocupe com quem, onde, ou quando se ministra o louvor, mas com o sentido espiritual da ministração.
1.5 Utilize o louvor como uma forma de entrar na presença do Senhor e adorá-Lo.

2. Aos que ministram

2.1 Seja um servo e nunca um ídolo,
2.2 Cante para o Senhor e não para a audiência ou para si próprio.
2.3 Saiba que embora existam cantos em línguas, como uma forma de manifestação do dom de variadas línguas (I Cor 12:10), não há um dom de cânticos ou de louvor, mas sim a habilidade natural das pessoas, que deve ser colocada sob o comando de Deus, para um fim espiritual útil.
2.4 Prepare seu repertório com hinos cuja música seja agradável para todos que estiverem ouvindo, salvos ou não salvos, jovens e mais velhos, e não somente para você ou para um certo grupo.
2.5 Que esse repertório contenha em suas canções mensagens segundo a palavra de Deus e que apresentem um sentido coerente, fácil de ser entendido e guardado no coração. Um refrão pode ser marcante e motivar repetição, mas isso também acontece com a música comum. Seja cuidadoso com o português.
2.6 Ore mais do que as outras pessoas que convivem com você no meio cristão.
2.7 Santifique sua vida.
2.8 Seja extra-humilde.
2.9 Ame seus irmãos de todo coração.
2.10 Procure envolver sua imagem com aquela de Jesus, você é objeto da atenção de muitas pessoas (Hebreus 12:1).

Pr. Elcio Lourenço
Pastor desde 1968. Igreja Batista Shalon – Brasília/DF
Engenheiro, matemático, Secretário de Estado de Transporte no DF. Autor de 11 livros

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